Para além do post “Refresh encarnado”, a pré temporada do Benfica, com alguns sinais preocupantes, obriga a que se fale de outros aspectos.
Nota prévia: a pré-época da equipa da Luz está a ser marcada pela “novela Simão” que está, claramente, a condicionar tudo o resto (*).
O Benfica mudou de técnico e de táctica e está a ter dificuldades de adaptação. Até ao jogo do Bordéus tudo parecia correr sem problemas mas, a partir do Torneio do Guadiana tudo se desmoronou.
Agora, a dois dias do primeiro jogo oficial, para a Liga dos Campeões, não há certezas sobre qual a táctica a utilizar.
Depois de várias semanas de treino e alguns jogos no novo “4-4-2 losango”, após o último jogo de preparação diante do AEK, o técnico admitiu voltar ao “4-2-3-1”, a que os jogadores estão mais habituados.
Entretanto, é bom não esquecer que Fernando Santos pediu dois jogadores (um defesa-esquerdo alternativa a Leo e um médio esquerdo para o vértice do losango) que ainda não chegaram e, possivelmente, mais pedirá se tiver que reformular mesmo a equipa para o “4-2-3-1” já que o plantel tem apenas dois extremos e inexperientes (Manu e Paulo Jorge).
Para uma equipa que tem jogado nos últimos anos na mesma táctica, apesar dos vários treinadores, o tempo de adaptação ao novo esquema era essencial, como fundamental era ter os jogadores certos para as várias posições.
O tempo não foi muito até por “culpa” da pré-eliminatória da Champions, apesar da equipa ter sido a primeira a retomar o trabalho. O Mundial também não ajudou com vários jogadores a chegarem mais tarde.
Mas, porque é que esta “nova” táctica (utilizada, por exemplo, por Milan, Chelsea ou Sporting) não está, para já, a resultar?
“4-4-2 losango”
Esta é uma táctica que, não tendo extremos, obriga a duas coisas: laterais ofensivos e médios polivalentes para jogarem no meio e cairem para as alas.
Por outro lado, convém que o “trinco” saiba fazer as compensações e o “10” tenha liberdade para criar jogo para os dois avançados (móveis e explosivos).
Ora, é precisamente nestes pontos que “a porca torce o rabo”.
Para além do atraso na preparação de alguns titulares (Luisão, Petit, Nuno Gomes), da chegada de outros (Katsouranis) e da lesão de Miccoli, o Benfica está com dificuldade em acomodar o meio-campo.
Petit é médio defensivo, tal como Katsouranis, e Fernando Santos parece estar com dificuldade em encaixar os dois jogadores no “11” uma vez que um terá – na nova táctica – que jogar a interior direito.
Quando se pensaria que seria o grego o escolhido (contratado por ser conhecido do técnico e polivalente), o certo é que tem sido o internacional português a jogar nessa posição, o que, claramente, parece desapropriado às suas caracteristicas.
Por outro lado, no vértice esquerdo tem estado prioritariamente o outro grego (Karagounis) que, apesar de esforçado, tem dois problemas: não é canhoto e não gosta muito de defender.
Enquanto se espera o jogador pedido pelo técnico (não deve chegar tão cedo), Nuno Assis e Karyaka poderiam ser alternativas válidas. O português é mais um criativo e o russo está de saída e sempre que jogou mostrou pouca vontade de mostrar serviço.
Esta táctica, no papel, parece moldada às características do “maestro” (como já jogava em Itália), mas convém que Rui Costa se concentre nas acções ofensivas e não se desgaste defensivamente. Para que isso aconteça é fundamental que os três companheiros de sector estejam a funcionar.
Também na defesa a “coisa” não está a correr bem: os centrais estão desamparados, sem o correcto apoio do meio-campo, e os alas a subir pouco e mal.
Léo e Nélson (ainda não parece recuperado a 100% dos problemas da época passada) dão, estando em forma, todas as garantias porque são dois jogadores que gostam de atacar e fazem-no bem, sem perder sentido defensivo.
Para além destas questões evidentes na equipa titular, há depois a segunda parte do problema: o banco continua a ser curto.
Na defesa, os laterais não têm suplentes. Se Nélson precisa que um central (Alcides) ou um extremo-adaptado (Marco Ferreira) o substitua, do lado esquerdo nem isso e só Nélson (apesar do claro abaixamento de rendimento) ou Ricardo Rocha parecem minimamente capazes de o substituir.
No meio-campo, há mais dois trincos - o jovem Diego e o inanarrável Beto – um com qualidade, mas ainda em adaptação e outro que dá tudo o que tem, mas tem pouco para dar.
O problema agrava-se nos vértices onde, já sem Manuel Fernandes – outra baixa importante e mal explicada – só há Nuno Assis e, ao que parece, o miúdo João Coimbra, repescado da lista de dispensas. Parece-me curto para toda a época.
Para finalizar há os dois já falados extremos que, em principio, estariam destinados a um segundo plano já que só entrariam apenas em alturas de “crise” (jogo difícil em que fosse preciso algum “abre latas”).
No ataque há, teoricamente, cinco opções mas o cenário não é tão brilhante quanto parece: Nuno Gomes tem a preparação atrasada, Kikin Fonseca chegou agora, Miccoli continua a lesionar-se com muita facilidade, Mantorras não tem condições para ser titular toda a época e Marcel continua a difícil adaptação ao Benfica e está longe de provar a minha aposta nele.
4-2-3-1
Agora, em desespero, se Fernando Santos optar por voltar atrás e apostar na táctica conhecida ficam claras duas coisas: o Benfica desperdiçou toda uma pré-época e fica com o plantel muito desequilibrado.
Só com Manu e Paulo Jorge e com o tempo (31 de Agosto) e o dinheiro (será que a hipotética venda de Simão ainda virá a tempo de compor as coisas) a esgotar-se parece dificil que a equipa se consiga aguentar.
São dois miúdos, com pouca experiência de primeira divisão e nenhuma de Benfica e que, seguramente, foram contratados para completar o plantel, não para serem primeiras opções.
Por outro lado parece um desperdício ter cinco homens da frente quando só há um lugar a titular.
Também é discutível que Rui Costa aguente uma época tendo que fazer constantes viagens defesa/ataque com um meio-campo de três.
E então?
O 3-5-2 poderia ser a táctica a utilizar mas também para isso seriam necessários alguns jogadores, para além do tempo para treinar... tempo esse que não há.
Posto isto, e vistos os prós e os contras, confirmando-se as saídas de Simão e Manuel Fernandes, parece-me que, apesar de tudo, e dos riscos que isso implica, o Benfica deveria, entre as duas hipóteses mais prováveis, continuar a apostar no "4-4-2 losango".
É preciso acreditar, dar tempo e espaço aos jogadores e ao técnico. Ainda é cedo para começar, desde já, a começar a "fazer a cama" ao treinador.
(*) Caso analisado em breve.
domingo, agosto 06, 2006
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