Ronald Koeman admitiu, antes da última partida, que Mantorras vai ter dificuldades em voltar a jogar pelo Benfica e que, talvez, fosse melhor para o atleta ser emprestado no final da época.
Esta declaração do técnico holandês tem tanto de verdadeira como de despropositada. Vamos por partes:
Koeman preferiu ser sincero, a dar uma resposta politicamente correcta e isso caiu mal em alguns sectores.
É verdade que Mantorras, em condições normais, é a última opção para o ataque “encarnado” depois de Nuno Gomes, Miccoli, Geovanni e Marcel. Como se percebe, se não houver lesões, o avançado angolano terá poucas hipóteses de jogar.
Convém não esquecer ainda que, para além da concorrência dentro das “quatro linhas”, Mantorras tem outro grande adversário (o maior): o joelho.
A grave lesão e a incúria dos médicos (também do Benfica), que o afastaram dos relvados durante dois anos, destruiram (sem aspas) a carreira do “9”.
Mantorras dificilmente fará 90 minutos e ainda mais dificilmente uma época com 50 jogos oficiais.
Será que um clube como o Benfica se pode dar ao luxo de conservar um activo que joga meia-hora de tempos a tempos?
É duvidoso... a não ser que seja por uma espécie de “sentimento de culpa”.
É aqui que entra o “puxão de orelhas” que o presidente do clube deu ao técnico holandês. Algo do género: “Koeman precipitou-se, Mantorras faz parte do plantel, qualquer assunto deve ser discutido internamente, nada está decidido”.
Em tese, nada a obstar a esta declaração de Luís Filipe Vieira, que, como se percebe, acaba por não contrariar em nada a teoria do treinador.
No entanto, Koeman escolheu mal a altura para falar sobre isso, especialmente por duas razões: primeiro porque o mercado futebolístico acabou de fechar e depois porque, faltando ainda três meses para o final da época, é bem possível que Mantorras venha mesmo a ser necessário.
Como vão reagir jogador e técnico se chegarmos a uma situação desse tipo?
“Last but not least”: Koeman “esqueceu-se” que não tem os sócios e adeptos conquistados e, por isso, deveria ter mais cuidado em atingir um dos “meninos queridos” do “terceiro anel”.
Apesar de ter vindo de lesão, Mantorras foi decisivo em várias partidas da época passada, em jogos que acabaram por “carimbar” o título há 11 anos procurado. Os benfiquistas não esquecem isso...
Resumindo, compreendo as duas partes: acho que Mantorras não tem (infelizmente) condições para jogar no Benfica ao mais alto nível e, por isso, deveria ser emprestado e apoiado pelo clube; no entanto, também percebo o presidente. Esta não é a altura para falar nisto.
Enfim, uma questão de “timming”.
segunda-feira, março 06, 2006
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