sábado, março 29, 2008

Carta aberta ao “Maestro”

Em primeiro lugar, Rui, parabéns pelos teus 36 anos.

Espero que me autorizes a tratar-te assim, de forma tão familiar. Infelizmente, não nos conhecemos pessoalmente, mas sempre acompanhei a tua carreira e sempre te admirei enquanto jogador de futebol.

Para mim, serias sempre um grande jogador (como Figo ou João Pinto, por exemplo), dos melhores de todos os tempos, mas admito que o facto de seres do meu clube, de vibrares, sofreres e chorares pelo Benfica contribui para que goste de ti.

Fizeste grandes jogos na carreira, bateste – na altura – o recorde de transferência ao sair dos “encarnados”, foste figura de proa na Fiorentina mas, deixa-me dizer-te isto, chegaste tarde ao AC Milan ou, se quiseres, estiveste tempo de mais de “viola”.

O teu enorme talento de "regista" ("o último dos românticos", como já ouvi chamar-te) merecia mais.

Vários amigos meus – até alguns benfiquistas – chegaram a questionar o teu regresso à Luz, especialmente com o argumento de que estavas em fim de carreira, mas eu, desde sempre, fiquei muito contente com a tua volta ao Benfica.

Achei e acho ainda hoje que um plantel equilibrado faz-se, também, com uma mescla de juventude e experiência, mais ainda se essa experiência vier acompanhada de mística vencedora.

Agora, pareces decidido a abandonar os relvados no final da época.

Confesso que gostava que renovasses por mais uma época. Estás em grande forma, estás a jogar muito e, gerindo a temporada fisicamente, irias continuar a ser importante dentro das quatro linhas.

Apesar disso, compreendo e aceito a tua decisão, desde que, naturalmente, confirmes que vais aceitar a liderança de todo o futebol do Benfica.

Vais fazer falta dentro de campo, mas espero que consigas ser “maestro” igualmente fora dele.

Apesar de achar que é muito arriscado (até pela proximidade que tens com os jogadores), espero que tenhas “carta branca” do presidente Luís Filipe Vieira para “tomares conta” do plantel e de toda a estratégia para o futuro.

Espero que te possas cercar de pessoas competentes, que saibam de futebol, que percebam o Benfica, e que te ajudem a formar um núcleo coeso e forte (blindado, como dizem alguns).

A partir dai, define a política desportiva: o plano “A” e “B” para a equipa; um treinador que se enquadre nesses planos; camadas jovens sintonizadas com o plantel principal por forma a que haja um melhor aproveitamento; contratações cirúrgicas; dar preferência a ex-atletas do clube e/ou jogadores portugueses;

E já agora mostra coragem, por exemplo, nestas duas situações, se achares que tem que ser: dispensa os jogadores que tu achares que desportivamente já não servem, mesmo que sejam teus amigos; diz aos sócios e adeptos a verdade em relação à situação do clube, mesmo que isso implique dizer que “este ano não podemos lutar pelo título”.

Acho que a “coisa” complica-se para ti se não conseguires isto.

É certo que alguns destes passos vão ter que ser tomadas em breve, mas não te precipites. A escolha do treinador é prioritária, mas não podemos errar. Depois é partir para a construção do plantel e esperar que tudo esteja a 100% no dia da apresentação (o que – como sabes – não tem acontecido).

Confio em ti e no teu benfiquismo. Desejo-te toda a sorte do mundo.

Espero e acredito que vais fazer um bom trabalho. Prepara-te que a viagem vai ser dura, não só pelos adversários externos, mas também pelas lutas internas que vão tentar minar o teu trabalho.

Espero e acredito que vais conseguir devolver ao Benfica as vitórias no futebol que o maior clube português merece.

A carta já vai longa e, por isso, despeço-me renovando os “parabéns a você”.

Um abraço
cmcc

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